domingo, 25 de janeiro de 2015
LIPOASPIRAÇÃO: OS RISCOS POR TRÁS DA SILHUETA PERFEITA
A
dançarina Pâmela Baris exibia um corpo escultural e com medidas muito
bem distribuídas em seus 1,70 de altura. Eram 93cm de busto, 67cm de
cintura e 102cm de quadril. Proporções cobiçadas por qualquer mulher,
mas que para ela ainda formavam um conjunto imperfeito.
Vaidosa,
a catarinense de 27 anos buscou aperfeiçoar ainda mais suas curvas por
meio de lipoaspiração, cirurgia plástica capaz de retirar gordura
localizada. Era a terceira vez que a estudante de biomedicina e
ex-assistente de palco em programas de televisão passava por uma lipo.
Mas, dessa vez, durante o processo cirúrgico, seu fígado foi perfurado.
Ela perdeu muito sangue, sofreu uma parada cardiorrespiratória e acabou
morrendo ainda na mesa de cirurgia.
Não são infrequentes os casos de morte decorrente da lipoaspiração.
Ouvem-se muitas histórias de parada cardíaca ou reações adversas a
anestésicos. Contudo, para o Dr. Felipe Coutinho, diretor da regional
paulistana da SBPC (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), o
problema que ocorreu com a modelo, classificado como perfuração de
víscera, não é um risco pré-definido da cirurgia, como os citados há
pouco e, sim, um acidente. “É muito difícil isso ocorrer, é uma
exceção.
Geralmente, a tendência é direcionar a culpa para o profissional,
enquanto o certo e justo é investigar o que aconteceu. Inicialmente,
ninguém sabe. A paciente poderia ter hérnia ou fraqueza abdominal, o que
facilitaria a entrada mais profunda da cânula e poderia levar a atingir
alguma víscera.”
O número de mortes em lipoaspirações é baixo. Segundo dados da FDA (Food
and Drugs Administration – vigilância sanitária americana), são
esperadas 3 mortes a cada 100 mil cirurgias de lipo. Dr. Dênis Calazans,
secretário geral da SBPC, explica que a
lipoaspiração não apresenta índices científicos e estatísticos de risco
diferentes das demais cirurgias. Ainda assim, alerta para as
complicações que a cirurgia pode causar. “Podemos elencar embolia
gordurosa (oclusão de pequenos vasos por gotículas de gordura), seroma
(excesso de líquido que fica retido próximo à cicatriz cirúrgica,
causando inflamação), hematomas, irregularidades de relevo cutâneo,
infecção, entre outros.”
A era da lipo
Apesar de ainda não se saber exatamente os motivos do acidente com
Pâmela, a morte da dançarina alerta para algo importante: é necessário
muita atenção na hora de escolher a clínica e o profissional que vai
fazer a operação. “É preciso, inicialmente, saber se o médico é
cirurgião plástico, com seis anos de Faculdade de Medicina, mais dois
anos de residência em cirurgia geral e três anos de residência em
cirurgia plástica, com título de especialista registrado
no CRM (Conselho Regional de Medicina) e membro da SBCP. É recomendável
que se obtenham referências do médico e local por meio de informações
de outros pacientes que já tenham sido operados por ele. A consulta
médica e a relação de confiança que se estabelece por meio de
informações mútuas são um forte aliado da segurança cirúrgica”, ressalta
Dr. Calazans.
A lipoaspiração é a segunda cirurgia plástica mais realizada no Brasil,
ficando atrás somente do implante de silicone nas mamas. Em média, os
custos da cirurgia variam entre R$1.800 a R$4.500, dependendo da região
onde é realizada a intervenção. Não é uma operação barata, mas das 700
mil plásticas estéticas feitas anualmente no País, 140 mil são lipos. O
número alto se deve, em parte, à grande quantidade de clínicas estéticas
que realizam a cirurgia por preços bem baixos e com parcelamentos
atraentes.
Para Calazans, tais clínicas são “verdadeiras arapucas a que o paciente
desavisado e desconhecedor dos riscos se entrega, acreditando estar se
submetendo um serviço eficaz e seguro. Geralmente, essas empresas
priorizam o lucro e não o trabalho médico. São clínicas que se
apresentam na internet com publicidade ostensiva, recrutam médicos pouco
ou nada preparados nem habilitados, onde muitas vezes o paciente é
assistido por um profissional e operado por outro que nunca viu. As
reclamações e processos em face desse tipo de clínicas se avolumam nos
Conselhos Regionais de Medicina.”
Antes, durante e após a cirurgia
A lipo é uma técnica para retirar o excesso de gordura localizada por
meio de sucção feita com uma fina cânula introduzida na camada
subcutânea gordurosa. Essa cânula é ligada a um aparelho que suga de
maneira controlada o tecido adiposo.
Cânula sendo introduzida na região adiposa
Antes de a sucção começar, é preciso que a região a ser operada seja
infiltrada com uma solução de soro fisiológico e substâncias vasoativas
que têm a finalidade de promover a vasoconstricção (processo de
contração dos vasos sanguíneos) no local, visando diminuir a perda
sanguínea e promover a retirada mais fácil da gordura.
Não existe um tempo preciso ou determinado para a realização do
procedimento. “A duração varia de acordo com as áreas a serem tratadas, a
habilidade da equipe médica, o grau de dificuldade técnica próprio de
cada paciente. Não obstante, é cientificamente sabido que a ocorrência
de complicações cirúrgicas obedece a uma proporcionalidade de tempo:
procedimentos cirúrgicos muito longos tendem a um aumento exponencial
dos riscos”, explica Calazans.
Como em toda e qualquer cirurgia, também é necessário preparo antes do
procedimento. O paciente precisa marcar uma consulta prévia para
diagnóstico e realizar alguns exames pré-operatórios, como hemograma,
coagulograma e avaliação cardiológica. Algumas doenças ou situações
podem impedir o procedimento, como uma simples gripe, alergias, hipertensão e
certos problemas cardíacos. Além disso, pessoas que estão bem acima do
peso e apresentam excesso de gordura não devem ser submetidas ao
processo, assim como pacientes com mais de 60 anos, pois a idade
avançada traz perda da elasticidade da pele (colágeno e elastina), o que
facilita a entrada da cânula e pode resultar em perfuração de uma
víscera, sem contar que a retirada da gordura (que mantém a pele um
pouco mais esticada) vai deixar o corpo mais flácido.
Para quem tem pressa e espera sair da sala da cirurgia com a silhueta
enxuta, a má notícia é que nenhum procedimento cirúrgico estético,
incluindo a lipoaspiração, mostra resultado imediato. Após a lipo, a
região operada tende a ficar inchada. Para ver o resultado, é preciso
esperar a região recuperar-se.
Em geral, somente após o segundo ou terceiro mês de pós-operatório, é
possível observar uma sensível redução do edema (inchaço) e,
consequentemente, ter uma ideia do resultado. Contudo, o resultado
definitivo se evidencia apenas seis meses após a cirurgia.
A recuperação não é mais ou menos complexa do que a de outro procedimento. Na verdade, é igual. Como a cirurgia
requer incisões mínimas, de um centímetro, para inserir a cânula, os
pontos são pequenos, o que facilita a recuperação. Recomendam-se
tratamentos fisioterápicos complementares no pós-operatório, como
drenagens linfáticas, a fim de minimizar os efeitos do edema e favorecer
a cicatrização da região operada. Além disso, especialistas sugerem o
uso de cintas modeladoras por, no mínimo, um mês, para ajudar a dar
firmeza à pele.
Condições para se submeter à cirurgia
Apesar de ter virado moda entre aqueles que exigem um corpo mais esguio,
tanto Calazans como Coutinho reafirmam que a lipoaspiração não é um
método de emagrecimento. “Ela deve ser empregada para tratamento de
áreas de depósito de gordura que sejam resistentes a tratamentos prévios
de redução de peso e atividade física. Geralmente, são áreas em que o
depósito se faz por fatores genéticos. A indicação segue também um
desejo do paciente e a avaliação detalhada e minuciosa de um cirurgião
plástico”, explica Calazans. Sem contar que a quantidade de gordura
máxima que pode ser retirada na operação é 7% do peso corporal, não mais
que isso.
Lembrando que a cirurgia só deve ser feita após os 18 anos, não é
recomendada a lipoaspiração para adolescentes, por uma série de fatores.
Um deles é o fato de o metabolismo jovem favorecer a redução de gordura
em determinadas áreas do corpo mediante disciplina alimentar e
atividade física. “O que notamos com grande preocupação é a procura pela
lipoaspiração quase como resultado de um modismo da ‘forma física
ideal’, que deve ser conquistada rapidamente. Isso é sempre
contraindicado, uma vez que a lipoaspiração é um tratamento médico, e
por isso deve ser encarado como alternativa radical”, afirma Calazans.
Lipoaspiração X Lipoescultura
Muito se ouve falar também da lipoescultura. Para as mulheres mais
atentas a novidades do mercado da estética, ela é vista como uma maneira
de esculpir o corpo humano. Só que para Calazans, essa técnica se
assemelha mais a um incremento de marketing. “Criaram-se nomenclaturas e
definições com o intuito de minimizar riscos inerentes a um tratamento
específico, que é a lipoaspiração. Isso gera no leigo uma falsa ilusão.”
Para o cirurgião, a “lipoescultura” nada mais é do que o lipoenxerto,
técnica de retirada da gordura de determinada área corporal e injeção
desta em outra parte do corpo, com objetivo de dar volume.
Fonte: drauziovarella.com.br/mulher/-2/lipoaspiracao-os-riscos-por-tras-da-silhueta-perfeita/
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