quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Edição do dia 07/12/2014
07/12/2014 22h41 - Atualizado em 07/12/2014 23h47
Médicos alertam para os riscos das próteses à base de hidrogel
Substância, que é vendida apesar de estar com registro vencido na Anvisa, provocou infecção na modelo Andressa Urach e em outras mulheres
Esta semana a modelo Andressa Urach foi parar na UTI com uma infecção
gravíssima depois de cirurgias para tirar mais de um quilo de tecidos
das pernas. Andressa tinha recebido aplicações de hidrogel nas coxas. O
Fantástico investigou este mercado lucrativo e constatou que na busca
pelo corpo perfeito tem muita gente colocando a vida em risco.
Ela já foi vice Miss Bumbum e madrinha de bateria. Na Copa, pintou o
corpo para chamar a atenção do Cristiano Ronaldo e virou comentário
geral. Mas, esta semana, a modelo e apresentadora Andressa Urach foi
notícia por outro motivo: o seu atual problema de saúde.
Há cinco anos, Andressa decidiu aumentar as coxas. Para
isso, optou por um procedimento muito popular atualmente: a aplicação
de um produto conhecido como hidrogel. Há 10 meses, as pernas começaram a
infeccionar.
''Ela veio à clínica e eu encontrei de fato uma bola inflamada, um
acúmulo de líquido na mesma região onde estava o produto'', afirma o
cirurgião plástico Julio Vedovato.
Ela foi internada em estado grave na UTI de um hospital em Porto Alegre,
com infecção generalizada, mas vem se recuperando. De acordo com o
último boletim médico, Andressa está acordada, conversando e respirando
espontaneamente, sem ajuda de aparelhos.
O produto usado pela Andressa é uma mistura de soro fisiológico com uma
substância sintética. ''Hidrogel é simplesmente o nome de como ele é. É
um gel transparente, tem água. Na realidade, a substância principal se
chama poliamida'', explica Denise Steiner, presidente da Sociedade
Brasileira de Dermatologia.
O hidrogel é injetado na camada mais profunda da pele, para dar volume e
se fixa no local da aplicação. O organismo reage ao corpo estranho e
cria uma membrana ao redor da substância. O problema é que essa membrana
pode infeccionar e é aí que está o perigo: quanto maior a quantidade de
hidrogel, maior o risco de infecção.
O hidrogel vem da Ucrânia e começou a ser vendido no Brasil com o nome de Aqualift. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, informou, em nota, que o registro para comercialização do Aqualift venceu há oito meses. O produto, portanto, neste momento não pode ser importado e nem vendido no Brasil. Apenas os lotes fabricados até o dia 31 de março deste ano estão liberados.
O hidrogel vem da Ucrânia e começou a ser vendido no Brasil com o nome de Aqualift. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, informou, em nota, que o registro para comercialização do Aqualift venceu há oito meses. O produto, portanto, neste momento não pode ser importado e nem vendido no Brasil. Apenas os lotes fabricados até o dia 31 de março deste ano estão liberados.
Na internet é fácil encontrar propagandas que prometem resultados
milagrosos. Nos consultórios, os médicos confirmam que o hidrogel está
alta, principalmente agora, às vésperas do verão.
O Fantástico marcou em uma dessas clínicas, no Rio. ''Semana que vem eu
estou com a agenda toda cheia. O Aqualift é o único que eu não tenho
nada. Acabou tudo, sai muito. Não tem mais ninguém natural'', afirma a
médica responsável pelo atendimento. Em um exame rápido, a médica
garante resultado imediato. ''O que você precisa fazer é mais esse
andarzinho aqui de cima. Daí você dá uma empinada'', explica.
E cobra R$ 3,7 mil para aplicar 100 ml de hidrogel no bumbum. ''O
Aqualift ele vem uma bolsa de soro fisiológico. Ali vem 100 ml. Então eu
abro e faço com você'', afirma.
Cem mililitros é uma quantidade muito maior do que a recomendada pela
Sociedade Brasileira de Dermatologia, que é de no máximo 5 ml para o
corpo. Ou seja, a médica indicou uma quantidade 20 vezes maior do que
seria seguro.
''A Sociedade Brasileira de Dermatologia está muito preocupada com essa
situação, porque isso está disseminado. Em qualquer local você vê uma
plaquinha:'Injeta-se isso, faz aquilo''', ressalta Denise Steiner.
No lugar do hidrogel, os dermatologistas preferem substâncias absorvidas
facilmente pelo organismo, como o ácido hialurônico. Para aumentar as
coxas e o bumbum, só mesmo a prótese de silicone. E qualquer um desses
procedimentos deve ser realizado apenas por médicos.
''Não podem ser feitos por profissionais não médicos, profissionais de
outras áreas da saúde e muito menos por pessoas leigas. São
procedimentos privativos do médico'', explica o presidente do Conselho
Federal de Medicina Carlos Vital.
Maria José Brandão, de 39 anos, não estava atenta a isso. Mês passado,
em Goiânia, ela teve complicações depois de uma aplicação de hidrogel e
morreu.
Raquel Policena Rosa, a falsa biomédica que a atendeu, foi presa, mas
agora responde em liberdade por homicídio, exercício ilegal da medicina,
lesão corporal e distribuição de produtos farmacêuticos sem
procedência.
A notícia apavorou outras clientes de Raquel, como uma mulher de 35 anos
que não quis ser identificada. ''eu não posso ficar muito tempo sentada
que começa a inflamar, a formigar, chega ao ponto que eu começo a
mancar. Eu ainda não estou conseguindo viver direito. Eu quero a minha
saúde de volta'', lamenta.
Muitas mulheres que já aplicaram o hidrogel estão sem saber o que fazer
com a bomba relógio que parecem carregar no corpo. ''Procure o seu
médico para efetuar exames. Para ver se isso está inflamado, se está
infectado'', recomenda Julio Vedovato. ''Se pudesse voltar atrás não
faria. De jeito nenhum'', diz uma das vítimas.
Fonte:g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/12/medicos-alertam-para-os-riscos-das-proteses-base-de-hidrogel.html
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